Começo por indicar que recebi um exemplar deste zine uma vez que fiz parte do júri do concurso “Toma lá 500 paus e faz uma B.D.”, enquanto sócio da Tinta nos Nervos, “bolsa” promovida pela editora, e de que o autor foi o vencedor. Durante o processo, foram esgrimidos argumentos sobre as obras concorrentes, e um dos pontos que compreendi desde logo é que este projecto era a “cara” do catálogo da Chili, ainda que compreenda a diversidade editorial ofertada por esta plataforma (mesmo que alguns agentes mais distraídos insistam que se trata da “mesma coisa”. É falso.).
Essa “cara” traduz-se aqui por uma atenção particular para com a realidade urbana portuguesa, real, ancorada, e jamais transfigurada em fantasias ou denominadores comuns que tentam domesticar a imagem da(s) cidade(s) e das gentes de uma forma fácil de consumir, vulgo “postal”. É algo que tem a imediaticidade da escrita diarística, apesar das suas roupagens representacionais, uma recordação de algo ainda quente na experiência, traduzido de forma simples, célere, e, pasme-se, divertida. Se não é um “espelho da sociedade contemporânea”, é um suficiente retrovisor e, como tal, talvez sirva para não sermos ultrapassados.
Tendo iniciado a sua vida no zine Danny & Arby, mais tarde compilados pela CCC em Lúcidos, Sãos e Determinados, este pequeno volume de 40 páginas dá continuidade às aventuras das suas personagens, que podemos eventualmente acreditar tratar-se de avatares do próprio autor e seus companheiros (“da penumbra”, apetece acrescentar). Um pouco como o trabalho de Joe Matt, Chester Brow e companhia nos anos 1990, ou mais recentemente as transfigurações assumidas por Simon Hanselmann e a sua troupe de desgraçados. Aliás, visual e estilisticamente, está mais próximo desta última referência. Como escrevi na altura das decisões, isto parece-me “Regular Show smokes dope”.
Há uma vivacidade nos desenhos de Barreto tipicamente zinescos, tão verdes como com pêlo na venta. Fúria da esferográfica. Papéis baratos que podem ser páginas de bd ou filtros manhosos para charros partilhados. Compreendi todas as referências? Nem por sombras. Mas a energia que nos passa a espinha quando ouvimos as baquetes a marcar o tempo antes da explosão de um tema punk é uma expectativa que atravessa este zine.
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