24 de novembro de 2008

City Stories 3: Reconstruction. AAVV (Łódzki Dom Kultury)

Por ocasião do (traduzindo) Festival Internacional de Banda Desenhada de Łodz (leia-se, “u-ódz”), na Polónia, e no seguimento de um projecto que vai na sua terceira edição, o City Stories resolve irmanar a cidade anfitriã com Lyon. Trata-se de um projecto que, a cada nova reunião de cidades, convida uma mão-cheia de autores polacos e outra mão-cheia de autores da cidade convidada (antes Moscovo e Londres) para que, juntos, construam histórias em banda desenhada que depois se reunirão num volume publicado pelo Festival. Com tudo o que de circunstancial e de encomenda que esta acção tem criaremos uma expectativa relativamente limitada, mas a mera possibilidade de nos dar a conhecer autores que nos passariam desapercebidos, forçando-nos a um melhor olhar o qual poder-se-á desenvolver de algum modo, já é meio-caminho andado para a atenção merecida.
O grupo de autores franceses parece ser mais unido, em termos pessoais, do que autorais. Por um lado temos Florian Bovagnet, Jérôme Dupré la Tour e Pierre-Marie Grille-Liou, que podem ser agregados no sentido de todos partilharem de um estilo de desenho solto, caligráfico, muito em voga em França e que pode dar frutos interessantes conforme o humor e desembaraço das histórias em que se empregam. la Tour, por exemplo, já contribui para uma das aventuras apócrifas de Donjon, mostrando-se ser um seguidor de Joann Sfar. O terceiro artista desdobra-se em várias frentes, não só na ilustração e banda desenhada, como ainda em algumas experiências ainda associadas à aprendizagem académica das artes visuais... Por outro, Grégory Demange mostra ser um autor mais virtuoso, o que deriva da sua formação de arquitecto, mas também da sua maior entrega enquanto escritor e quase qualidade de mentor dos restantes artistas em termos de buscas. O seu blog revela intermitentemente um diário gráfico que, não sendo rasgado, aproxima muitas experiências análogas.
Do lado polaco temos uma jovem escritora, Kamila Pawluś, um autor dito “completo”, Ireneusz Konior, que participa com uma história totalmente desenvolvida por si que explora um passado industrial já ultrapassado e que deixou mágoas, sobretudo nas máquinas, que se aproveitam para promover a vingança possível, Krzysztof Gawronkiewicz, de quem já faláramos aquando da publicação do seu álbum premiado (com Janusz), Essence, e uma desenhista, Berenika Kołomycka.
Encontrar-se-ão todas as combinações: histórias escritas pelos membros da “equipa francesa” e ilustradas pelos da “polaca”, o contrário, autores trabalhando sozinhos... A edição é bilingue e o livro reversível: cada capa mostra retratados os autores de cada uma das cidades, e é na língua respectiva, um lado em francês, o outro em polaco... (a capa, acima, é uma imagem compósita das duas). O que importa é a assunção de uma breve relação de cumplicidade e troca de olhares, que pode confirmar ou dissipar pontos de partida comuns ou distâncias intransponíveis. Como disse, são peças pequenas, e, se “reconstrução” se trata não somente de um sub-título dado posteriormente mas sim um programa dado a priori, entende-se a razão pela qual as histórias incidem em temas relativamente próximos, ou pelo menos constituindo uma malha apertada de conceitos: as visitas a cidades alheias e a instituição de preconceitos, a percepção informada por esses mesmos preconceitos, a dificuldade em os ultrapassar, os vários modos como cada um crê saber qual a melhor solução para o urbanismo selvagem (muito patente em Łodz), e os fantasmas que um rápido desenvolvimento mas também rápida queda das indústrias pode deixar para trás... Se a história de Konior é aquela que mais preenche esse papel, aquela ilustrada por Gawronkiewicz, de que deixamos aqui uma imagem, escrita por Demange, aponta para um outro modo de se poder abordar essa inquietude: através do absurdo, do fantástico, do aterrador, e do humor, todos elementos indissociáveis nesta estranha história com peixes-homens, e um hotel que se torna palco do encontro dessas ideias todas.
Nota: agradecimentos à “equipa francesa”, pelos vodkas perfumados, as conversas, e o livro, que pertence a Marcos Farrajota.

3 comentários:

Anónimo disse...

Eh a melhor "City Stories" das tres publicadas. Nao sei como e que se esta a "desnevolver" a minha proposta para convidar para a proxima edicao autores portugueses :-)

Pedro Moura disse...

Olá, Jakub.
Espero que sim, que seja verdade e que seja concretizado... Já agora, posso ir também? Sirvo chá.
Abraços.
Pedro

Anónimo disse...

pois, isto nao depende de mim mas vou insistir.

Abraços