4 de dezembro de 2013

Entrevista a M. Pellitteri no JICMS.

Serve a presente mensagem para simplesmente anunciar que foi publicado no último número do Journal of Italian Cinema & Media Studies a entrevista a Marco Pellitteri, que havíamos conduzido (e traduzido para português), quando da recepção ao seu livro The Dragon and the Dazzle.
A entrevista em inglês fica agora acessível a um público académico mais alargado, assim como futuramente o texto sobre o livro, a publicar num próximo número da mesma publicação.
Um sentido grazie a Marco Pellitteri, à editora Flavia Laviosa e a todos os editores textuais da entrevista.
Nota adicional: disponível online (através de compra, assinatura ou acesso universitário) aqui.

5 comentários:

José Sá disse...

Olá Pedro,
Penso que já referi aqui que ando (tranquilamente :-) a ler o teu blogue desde a sua criação, ou desde a primeira entrada disponível, com um sentimento de angústia semelhante àquele com que lamentamos a ausência retrospectiva de alguém ou de algo nas nossas vidas, que não poderemos jamais recuperar e que encaramos como um desperdício dos nossos melhores anos, quase uma (pequena :-))) morte em vida. Certamente existirá uma "short definition" para este sentimento, mais ou menos como o muito popular "vergüenza ajena", que espero não te ter feito sentir com este aparte algo excessivo ;-))). Que belo livro tem sido até à data.
Ainda não tinha chegado ao ano de 2011 aquando da publicação da tua crítica ao livro do Pellitteri, mas esta referência à entrevista fez-me dar o salto quântico para o dragão e para o relâmpago. Tendo eu nascido precisamente em 1970, a minha infância situou-se no olho do furacão do processo de "niponização" em Portugal dos conteúdos infanto-juvenis, mas que eram vistos por todos, pelo que, a evolução dos conteúdos e da sua disponibilização acompanhou e influenciou a minha evolução e disponibilidade para a cultura, para a percepção/recepção da estética e da palavra e, finalmente, o formato da transmissão de mensagens. Mais uma vez, uma aproximação à máxima de que a evolução do indivíduo reproduz a evolução da espécie.
É muito curioso ver assinalados os elementos "perturbadores" comuns que perpassavam das primeiras histórias que me chegaram: o herói, realmente, era sempre órfão, só para lembrar os três primeiros, Heidi, Marco, Jacky o urso de Tallac, e, mas alguns anos depois, o Conan, o Rapaz do Futuro. Muitas vezes me pergunto das razões de tanta orfandade, muito distinta das motivações preconceituosas da Disney, mas que (arrisco) parecem ter uma inspiração clássica nos contos infantis ocidentais sempre violentíssimos, para a nossa modernidade, do ponto de vista exigência emocional nas formas de transmissão de/da moralidade. Na verdade, há quase uma forma de produção shakespeariana (refiro-me às histórias que inspiraram as peças), se repararmos que quase todas estas séries resultam de adaptações de romances ou contos ocidentais quase obscuros, desde logo, o Conan surge de uma obra (curiosamente para mim) de 1970, que recebem uma popularidade inusitada pelo sucesso junto do público dessas adaptações. Penso que é esse mesmo ponto que é difícil de definir no início deste tipo de trabalhos, quem influencia quem. Por vezes ficamos enredados numa teia de influências que nos torna difícil aceitar a direcção ou sentido dos fluxos/correntes culturais e qual a hegemonia ocidental ou oriental na sua presença. (continua)

José Sá disse...

(continuação) As gravuras japonesas dos grandes mestres do período Edo no séc. XIX terão inspirado os impressionistas holandeses, ao mesmo tempo que, com o incremento das trocas comerciais, também na parte final do período Edo, talvez a mais reconhecida, foi influenciada pelos pintores europeus. Toda a mangá e animé japonesa (hoje em dia não é uma redundância) também foi fortemente influenciada pela cultura ocidental. Se não bastar a constatação óbvia da observação directa, basta recuperar as palavras do Tezuka ( a Disney) e do Tatsumi (os filmes de Hollywood). Circularmente, volto à leitura retrospectiva: cronologicamente, li primeiro o Regresso do Cavaleiro das Trevas do Miller, obra que sacraliza a mangá em todas pranchas, palavra do Koike, imagem do Kojima, mas depois leio "O Lobo Solitário" deles, uma ficção ocidentalizada de um samurai quase super-humano, herói vingador de moralidade vincada, influenciado pela morte da sua família, acompanhado de um sidekick, e lá está o Batman. E poderíamos continuar por aí fora e, com muito boa vontade chegar ao ponto em que a xilogravura japonesa, talvez influenciada pela pintura chinesa, influenciou a banda desenhada ocidental.
Em boa verdade, prefiro pensar na coisa das influências dentro de uma perspectiva extraterrestre: A terra vista do espaço, redonda, não tem cimo nem baixo (parece uma rima brasileira :-), esquerda ou direita. Sempre me confundiu a posição relativa dos povos no globo e a sua definição. Para um americano, o Ocidente não estaria no Japão e a Europa no Oriente? O Alasca foi “comprado” à Rússia! A miscigenação da cultura já está presente há tanto tempo em todos os povos do mundo, que às vezes me parece que cada vez mais estas discussões andarão ao redor das idiossincrasias que da influência em si própria.
Um Abraço,
José

Pedro Moura disse...

Ufa! :)
É claro que é natural que as culturas se influenciem mutuamente, por isso mesmo se chamam "culturas" e não "ambiente asséptico e isolado". Esses movimentos são circulares e todas as referências que apontas são de facto constatadas por mais de que uma fonte. Também o Kurosawa é um realizador que fazia coisas à la ocidental, para depois ser imitado outra vez pelos norte-americanos e assim sucessivamente (esqueceste-te de mencionar o "Ronin" do Miller, que é uma espécie de pastiche/homenagem/preparado de todos os princípios d'"O lobo solitário" e a mangá sci-fi).
Existem outros livros sobre mangá e animé - alguns dos quais tive oportunidade de debater, inclusive alguns sobre o Hokusai - que falam precisamente desse trânsito e desconfio sempre quando leio textoss que querem isolar as culturas e falar de "originalidades" absolutas, pois elas não existem. Apesar de todo o fascínio que se nutre pelo Japão, a cultura japonesa é por demais mimética de toda uma série de avanços tecnológicos e culturais, sobretudo da China e da Coreia, mas como tem uma cultura mais "cool" e mais propagandizada, é mais conhecida. O mesmo ocorre em relaação a outras culturais "centrais" e "periféricas".
Pois é, somos mesmo a primeira geração que foi exposta ao animé, mas de uma maneira particular, e desde logo "preparada" ou "adaptada" aos gostos europeus (as narrativas da Heidi, do Marco e do Tom Swayer); o "Conan" penso ter sido um choque brutal positivo. O livro do Pellitteri fla precisamente dessas coisas, vale mesmo a pena procurá-lo e lê-lo... Bom, ele encontra-se "disponível" no Laboratório de Estudos de Banda Desenhada, ah, pois ;)
Pedro

José Sá disse...

Está também disponível no amazon.uk e no bookdepository... Tens sido responsável por um aumento exponencial da minha lista de desejos... (citando José Estebes "- Que mal isto me soa!":-).
Que significa isso de estar "disponível"? Posso chegar lá (por onde é a entrada?), requisitar o livro e devolvê-lo quinze dias depois? Ou tenho que lê-lo in situ? Não me parece que a minha proverbial (muito popular entre mim) introversão me permita tais avanços :-)))
José

Pedro Moura disse...

O "LEBD" é um nome pomposo para o meu escritório pessooal, onde tento criar uma pequena biblioteca de apoio a quem esteja a investigar assuntos relacionados com banda desenhada (sobretudo). Isso significa que empresto livros para consulta, estudo, pesquisa, ou simples leitura. As condições ainda não estão totalmente esclarecidas para um público mais generalizado, mas estando no Chiado, não deve ser difícil agendar encontros, trocas e empréstimos.
Pedro