Mesinha
de Cabeceira # 27. XXXMas Special:
Nadja, Ninfeta Virgem do Inferno. Nunsky (Mmmnnnrrrg)
Depois de um tremendo intervalo entre os dois livros acabados do
bravio autor do norte, eis que Nunsky regressa às lides rapidamente
com um pequeno opúsculo. Mas todos os instrumentos são bem diversos
dos de Erzsébet: a história completa que ocupa todo o número
27 do MdC é, a um só tempo, pesada e leve, séria e cómica,
fresca e desesperante. A ninfeta do título vê o seu jovem namorado
toxicodependente a perder a vida com um chuto mal-sucedido, e
segue-lhe na peugada até ao Inferno, onde faz um pacto com o demónio
que a torna numa personagem trágica e romântica. Ser-lhe-á
concedido tempo de redenção com o namorado quantas mais almas
conquistar para o Príncipe das Trevas. Este relato parece
prometer-se como o primeiro episódio de muitas aventuras, e
seguramente que haveria estômago para aguentar tamanha crueldade,
morte sanguinária, heavy metal à anos 1980, e risadas à custa de
beatos de séries de televisão de cartão canelado de décadas ainda
mais rebuscadas. Um autêntico exercício de citação de
bonecos-feitos, Nadja é, em termos figurativos, uma espécie
de clash entre a luxúria e os laivos de fotorrealismo ma
non troppo de um de Will Elder ou Angus McKie (e, no que diz
respeito às cores, a explosão de diversidade do segundo e a o
esbatimento do segundo, sobretudo na fase da Playboy, com H.
Kurtzmann) e o pormenor quase doentio nas expressões e distribuição
de moral, e até alguns aspectos do conteúdo, de Jack Chick (das
“Chick Bibles”). Existem traços de alguma soberba crença na
mundividência católica e a associada crença no Demo. Tratar-se-á
este Nadja de um tortuoso panfleto de um Católico atormentado
por gostar dos discos dos Slayer e Iron Maiden e querer ver
realizadas as suas capas? Uma homenagem a todo um historial de comics
de séries Z? Interprete-se como se desejar, e para mandar fora um
cliché, Nadja é um bafejo de hálito quente e cerveja
quente.
(Mais)
(Mais)
As
crónicas da Cemitéria. Rodolfo Mariano (auto-edição)
Este livro em A4 reúne alguns trabalhos que já haviam sido
publicados online em O gato Mariano, mas parece conter algum
material inédito. O autor dá continuidade aos seus temas e
variações: guitarras animadas, figuras tétricas ainda mais
animadas, paisagens macabras e metaleiros (e quão clássica essa imagem!). Menos do que históricas
articuladas, o trabalho de Rodolfo Mariano está mais próximo de
pequenos poemas, ambientes, delírios temáticos que nos lançam num
território imaginativo tão específico como nebuloso. Os desenhos maioritariamente a esferográfica (mas não só, o autor indica que usa pincel e aparo, assim como rotrings-isograph de várias espessuras; no entanto, o "treino" desse exercício obsessivo, típico de qualquer estudante semi-aborrecido ou buscando outros métodos de concentração em aulas teóricas, está patente em todos os movimentos do pulso), frenéticos, procuram ocupar toda a página de uma
forma obsessiva, por vezes atropelando uma leitura mais fluida dos
momentos, dos diálogos entre as personagens, e até mesmo num
controlo mais elegante da perspectiva, mas por outro lado é
precisamente essa ocupação célere que dá o estranho charme ao
trabalho de Mariano, que parece emergir de uma neblina feita de fumos
perfumados a opiáceos e sustentados por o ininterrupto som de uma
drone guitar.
Muji
life. Hetamoé (Clube do Inferno) Parece estarmos a
mantermo-nos num campo onde o grotesco, o violento e o erótico andam
de mãos dadas. Mas no caso do trabalho desta autora portuguesa, há,
a um só tempo, uma mais forte componente cerebral e um abandono à
liberdade dos materiais com que constrói os seus textos. Na
verdade, suspeitamos que a leitura desta publicação não possa ser
feita de modo totalmente autónomo do seu pequeno encarte, um ensaio
intitulado Yangire/Yandere. Este é um excelente artigo
académico que utiliza instrumentos dos estudos culturais, feminismo
e outras disciplinas para falar sobre estas duas palavras-chave que,
de modo sucinto, se referem a figuras tipificadas de alguma banda
desenhada japonesa, de personagens femininas muito jovens e de ar
cândido mas que escondem uma personalidade “dupla” de violência
extrema. Existem diferenças subtis, que a autora explora, mas o mais
importante é a maneira como ela as sublinha para demonstrar que
servem ainda uma imagem heteronormativa da representação das
mulheres – para já como mais “emocionais” e mais disruptivas
na sua violência. Muji Life é como que uma “ilustração”
igualmente ensaística dessas considerações, utilizando algumas das
ideias e objectos discutidos para criar uma história fragmentada em
torno dessas ideias: uma obsessão amorosa que tem como corolário
actos da mais intrépida das violências. É muito estimulante ver
que os autores afectos ao Clube do Inferno (tal como André Pereira,
ver adiante) têm contribuído de uma maneira muito particular com
obras que não apenas trazem novas e inventivas propostas em termos
de temas, estilos e abordagens narrativas nos seus trabalhos, mas
igualmente propõem formas novas de pensá-la em termos formais e
comunicativos.
Altar
Mutante Comix # 3. Este zine de Espanha parece trilhar
territórios que misturam o gótico e o horror, o satânico e o
mágico, a fantasia e a ficção científica pós-apocalíptica. Com
os três títulos acima citados, está em perfeita companhia. Com
muitos trabalhos variados, encontrar-se-ão coisas para todos os
gostos, balizados por aqueles géneros, desde capítulos de aventuras
maiores a contos curtos em torno de temas ou imagens singulares. Mas
chegou-nos este objecto às mãos por conter uma banda desenhada
curta de André Coelho, uma adaptação à composição entre texto e
imagem de uma parcela de um dos livros sobre as bombas nucleares de
Richard Rhodes, tendo contado com a colaboração de Manuel J. Neto
no trabalho de edição textual. Assim temos 5 páginas da história
da descoberta, mineração e baptismo do mineral que é o sangue das
bombas: “Hombres de Marte”. No entanto, o que se verifica aqui é
uma transformação dessa história numa rede de associações de
imagens e temas que o transforma numa espécie de passeio
psicogeográfico transhistórico e que mistura a realidade ao plano
mítico, um pouco à la The Birth Caul de Alan Moore e Alec
Campbell.
Evan
Parker Xjazz. André Coelho (Chili Com Carne/Thisco).
Para nos mantermos na companhia do mesmo artista, mas alterando um
pouco as águas, acompanhemos um zine, impresso a duas em risografia,
sendo uma delas um belíssimo cinzento metalizado, que traz reflexos
às figuras humanas. EPX é tão-simplesmente uma colecção de
alguns desenhos feitos à vista dos músicos agregados numa espécie
de jam session, workshop, master class e momento de
procurar harmonias e investigações profundas musicais, em torno da
figura de Parker, quando da sua visita do festival Xjazz em Pedrogão
Pequeno, de que existirão outros registos. Um sucinto mas claríssimo
texto de Rui Eduardo Paes cria o necessário contexto para os
incautos, mas igualmente para nos fornecer algumas pistas não só em
compreender algumas das frases igualmente capturadas por Coelho, mas
pequenos gestos subtis que poderão fazer adivinhar as tais harmonias
conquistadas: as mãos pusadas sobre os joelhos e os olhos fechados
de Parker ao escutar os músicos, um saxofonista a não tocar,
o sobrolho carregado de um músico de electrónica, as caretas
expectáveis de quem segue num transe de notas, e as misteriosas mãos
em posições de mudra, em busca de navegações pelos sons,
são apenas alguns dos elementos deste sketchbook.
Free
Dub Metal Punk Hardcore Afrotechno Hiphop Noise Electro Jazz
Hauntology. Marcos Farrajota (Chili Com Carne)
Bem vistas as coisas, esta antologia de vários trabalhos curtos do
autor espalhados por várias publicações, sobretudo as tiras “Não
‘tavas lá!?”, mini-reportagens em banda desenhada de concertos
musicais, mereceria uma recepção mais alargada. Como o próprio
título indica, este volume reúne trabalhos que lidam sobretudo com
temas musicais, desde essas pequenas reportagens a peças mais longas
dedicadas a um festival de metal, outros encontros, mas também a
muitas das presenças culturais que, de uma maneira ou outra,
informam a paisagem identitária do Portugal contemporâneo. Daí que
se encontrem algumas das bandas desenhadas que – se nos permitem –
foram incluídas em SemConsenso, como “Os betos
venceram!!!”, “O cristão colorido” e “Arabyan Ana!” – no
seu conhecido estilo de borrifamento universal, w as suas figuras
rapidamente rabiscadas em esferográficas ou canetas o mais à mão
possível, e sobre restos de papel, senão mesmo páginas
descartáveis de Bíblias impressas (o autor respiga vinheta de
histórias umas para as outras, ou constrói uma prancha final a
partir de vinhetas rasgadas noutro local), Farrajota transforma
sempre qualquer oportunidade para, ao aparentemente querer dar conta
de um evento de modo objectivo, ou partilhar uma opinião de maneira
descontraída, acaba por revelar traços dessa tal identidade que
faríamos bem em questionar. Daí que o uso do vocábulo
filosoficamente prenhe de “hautologia”, de Derrida, não seja um
rodriguinho, mas um caso sério. A visão particular sobre o dito
mercado independente de edição de livros ou música, o estado da
arte e as suas misturas com os negócios camarários, a forma como
interesses comerciais rapidamente co-optam, como se costuma dizer,
movimentos culturais que poderiam ter sido alternativos, são alguns
desses elementos. Mas acima de tudo está uma certa bonomia e
complacência da “cultura média burguesa” para com a nossa
própria história, o que nos leva poucas ou nenhumas vezes a pormos
em causa aquilo que achamos que faz de Portugal “um grande país”,
ou dos portugueses “um povo nobre”, e coisas quejandas. Algumas
das sendas das histórias enveredam pela autobiografia, mesmo
rebuscando o passado, dando continuidade a uma das linhas que o autor
mais cultivou, em larga medida, quase isoladamente no nosso país. Há
ainda uma divertida participação de Rudolfo, que ilustra um aviso
sobre os perigos da droga aos mais jovens. Muito pedagógico.
Seguramente que seria um ganho para o PNL.
Mundos
em segunda mão. Vol. 2. Aleksandar Zograf (Mmmnnnrrrg)
Este volume dá continuidade ao peculiar método de escrita de
Zograf, que o aliará a autores como Bill Griffith, David Greenberg
ou David Collier: autores que, em vez de criarem imensos blocos de
reportagens ou explorações monumentais de um tema (o que podem
igualmente fazer), concentram a maior parte do seu trabalho em curtos
ensaios ou “artigos” em torno de notícias, eventos, personagens
ou aspectos da realidade humana que não parecem possuir qualquer
importância para a transformação das sociedades. Esta comparação
tem os seus limites, já que Griffith prefere misturar essa pesquisa
com o humor surrealista que Zippy lhe permite, e Zograf de
quando em vez foca acontecimentos de cariz histórico. Em apenas 2
pranchas, com um número limitado de vinhetas e um bloco imenso de
texto corrido, Zograf discorre aqui sobre muitos objectos inusitados
(suportes para jogar às cartas sem cansaço, suportes em renda de
rolos de papel higiénico, alargadores de calças, etc.) que existem
no Ocidente, que não menos importantes nas suas funções do que
demonstrar o excesso a que o capitalismo chega, abandonando a
necessidade em nome do desvario. Mas também há toda uma colecção
de livros, publicações, postais do “Leste”, que o autor
recupera para nosso gáudio. Ou episódios históricos que, de uma
forma ou outra, compõe elementos do confuso rendilhado que minaria e
explicaria muitos dos conflitos ainda hoje em curso pela Europa e não
só. Ou então recordações mais pessoais de encontros com artistas,
pessoas, e cidades, criando uma memória, apesar de tudo,
transmissível. Como explica de modo perfeito o prólogo de Edgar
Pêra, estas “notículas” fazem-nos lembrar as rubricas Ripley’s
believe or not. Breves mas intensas, o modo como Zograf as
parece “cortar” sem qualquer tipo de crescendo ou resolução
emocional apenas as torna ainda mais inquietantes, promissoras e
fantasmáticas.
Os
vestidos do Tiago. Joana Estrela (auto-edição) Livro
ilustrado de apenas pouco mais de dez páginas, não há propriamente
aqui uma narrativa, ou pelo menos não há nem intriga nem tensão. É
tão-somente quase uma descrição do crescimento do Tiago, o seu
fascínio por vestidos “de menina”, a sua colecção que foi
sendo criada com o apoio da avó e da mãe, e a descoberta, a mais
importante, de que “não está sozinho”. Os desenhos são feitos
a linhas simples e coloridas a caneta de feltro, talvez, cada uma
delas atravessando-se no caminho da outra não para as interromper
mas para que juntas criem figuras que criam uma também simples
alegria de ali estar. Este livro não procura de maneira alguma uma
espécie de mensagem, nem tampouco de discussão, controversa
ou outra, ou sequer ainda propor uma discussão em torno do conceito
elusivo de “normalidade”. A autora de Propaganda, depois desse
imenso trabalho de reportagem, parece querer chegar apenas a uma
constatação, mas é nela que se alevanta a maior das afirmações.
As coisas existem, passam-se, têm o seu lugar, e apenas pedem que
haja leitores que as leiam e depois pensem sobre elas.
Molly
# 2. Rudolfo (auto-edição) Reunindo uma colecção
de pequenas histórias, sempre com alguma dimensão autobiográfica,
seja ela real ou fantasiada, não há dúvida que esta é uma
oportunidade – se for isso desejado – de entrar na psique deste
autor. O autor aqui mostra a melhoria e transformação interna dos
seus registos gráficos: por um lado, tem uma abordagem
super-estilizada e minimal, quase de construção geométrica, numa
história dedicada a uma banda favorita de noise (fictícia,
mas a partir de fragmentos de experiências musicais e performativas
reais, decerto, como se Last Days of Humanity fornicassem com Merzbow
e Bob Flanagan fosse a parteira) - ainda que haja “intervenções”
de outros estilos -, por outro, tem o seu desenho cada vez mais
apurado na introdução de pequenos pormenores orgânicos e vivos,
mesmo quando escolhe enquadramentos e composições descentradas. E
há toda uma série de inside jokes que poderão alegrar a
leitura do mais incauto dos espectadores, como a de um conhecido
crítico de zines rendido a uma tira de cãezinhos fofinhos. Mesmo
quando se parece concentrar em fantasias superficiais ou episódios
banais da sua hipotética vida, há algo de desconcertante e até
incómodo no modo como cria estas “confissões”. O facto de ser
impresso a rosa não pode ser por acaso.
Break
Dance. André Ruivo (Mmmnnnrrrg) Em mais uma colecção
de desenhos “soltos” ainda que articulados entre si pelo
princípio da série, Ruivo continua na sua exploração de abarcar o
mundo, uma página de cada vez. Há algo de infantil nesta espécie
de alegria em ocupar uma folha com um desenho e nada mais, declará-lo
terminado e passar ao próximo. Todos em papel pautado, estes
desenhos são criados a esferográfica, lápis ou lápis de cor, e
quase sempre de figuras isoladas, umas paradas, outras em movimentos.
Retratos, talvez, de personagens que misturarão alguma capacidade de
observação do autor às mais estranhas idiossincrasias das pessoas
reais e uma boa dose de inventabilidade no momento do próprio
desenho. Para o final do volume, ao invés de transeuntes sob a forma
de semi-palhaços ou amantes de camisolas de lã tricotadas e
coloridas, começam a ocupar mais espaço personagens de fartas
cabeleiras, cobertas com mantos, capas, burkas, sacos de plástico ou
surgindo em silhueta, em manchas cada vez mais envolventes de
esferográfica preta riscada com alguma intensidade (é visível o
volume imposto ao papel, embolado, pela acumulação de linhas e
tinta).
Madoka
Machina # 1. André Pereira (Polvo) Primeiro número
de uma mini-série de 6 (como o modelo de publicação como o Living
Will), este novo projecto de André Pereira parece vir confirmar
uma linha de trabalho que o autor tem desenvolvido em peças curtas
anteriores: a de amalgamar linhas tópicas advindas de géneros e
territórios tais como a fantasia, a shonen mangá, alguns
videojogos, com temáticas e tratamentos psicológicos de personagens
mais habituais de quadrantes da banda desenhada autobiográfica
contemporânea, ou slice of life. É provável que a economia
das personagens de MM ainda venha a alterar-se
substancialmente, e possamos ter de corrigir uma primeira impressão
(afinal de contas, começa no “segundo ano”, depreendendo-se
haver um “primeiro”). Temos aqui uma vida de casal, Leandro e
Leonor, que poderá atravessar crises várias, mas em que neste
primeiro volume parece centrar-se no início dessa relação, e na
sua conquista da “normalidade”. Todavia, a estrutura que o autor
procura instituir, a de criar três linhas narrativas, três
perspectivas diferentes e que se traduzem em três modos distintos de
compor as páginas, dá-nos acesso a distribuições diferentes das
emoções em causa. A primeira parte, em 4 pranchas relativamente
clássicas, a partir de uma matriz regular, associa-se a uma certa
inércia de Leandro. A segunda, em 8 pranchas, segue numa
distribuição vertical (à la koma?), em torno do encontro
entre os protagonistas, o seu “voo/partilha mágica” e o início
da relação, transformada numa breve transição numa rotina,
desaguando no “terceiro ano”. Aí se introduz a terceira linha,
também de 4 pranchas, em que se regressa a uma outra regularidade
basilar (de 2 x 3 vinhetas), mas onde existem “desarrumações”
com vinhetas à la Ware, de intromissões comunicativas, close-ups
de objectos, e intervenções diagramáticas. Como dissemos acima, A.
Pereira, na senda do trabalho do Clube do Inferno, apresenta aqui um
trabalho que não é apenas “mais uma história” de banda
desenhada mas uma forma vigorante de propô-la.
Alcibiade.
Rémi Farnos (La joie de lire) Para além do zine espanhol já citado, nesta pilha de publicações,
apenas mais dois serão de extracção estrangeira (em termos de edição).
Este é um livro que pega em todos os clichés da “viagem do herói”
e o coloca num único, singular e simples veículo. Começamos a
aventura na capa, talvez, que nos oferece nas capas e badanas um
circuito fechado do percurso da personagem, chegando de barco,
subindo as encostas de uma montanha, saltando pelos ramos de uma
árvores gigantesca, penetrando numa gruta tenebrosa, e saindo dela
para dar com um trilho que o leva a um barco à beira do lago. Com o
pequeno personagem Alcibiade, em busca do grande sábio,
acompanharemo-lo em pequenas escaramuças, a recrutar aliados,
sobretudo um na forma de um abutre gigante que o ajudará, e depois
as várias etapas, da conquista de uma armadura mágica que cresce
com ele aos preços a pagar por certas vitórias. Envolvendo dragões,
minotauros, gigantes, guardiões de pedra, guerreiros destemidos e
toda a espécie de animais fantásticos, e todas as lições que
esperaríamos de uma análise à la Joseph Campbell, o particular
interesse desta obrinha do jovem autor está menos na própria
narrativa ou até nos diálogos, que servem o seu propósito
imediato, do que na forma como o autor resolve as questões de
navegação das suas páginas ou na composição das paisagens. Se a
maior parte delas aparece como uma grelha regular de 4 x 5 vinhetas,
muitas vezes apresenta-se sob a forma de uma paisagem completa que as
personagens atravessam, por vezes sem que todas as vinhetas tenham um
papel “activo” na narração. Outras vezes são sucessões de
tiras-paisagem, com pequenos desarranjos. Mas há igualmente outras
estratégias, mais radicais, e é nessa diversidade de soluções (um
pouco na esteira de alguns dos exercícios espaciais de Lewis
Trondheim e companhia, quer nos projectos da Oubapo quer nos
projectos infanto-juvenis) que Alcibiade se torna um projecto
intrigante, encantador e divertido.
New
Frontier. Third Wheel. Hanna K
(Peow!) A história contida
entre as páginas deste livrinho parece corresponder a um projecto
maior, já que apontamentos no seu final remetem a um contexto bem
alargado, mas este episódio é concentrado e suficiente com as suas
personagens. Numa estação espacial que parece ter entrado em
colapso interno, como num apocalipse privado, dois jovens
sobreviventes procuram vasculhar pelo lixo disponível soluções de
alimentação, energia e até entretenimento, mas quando se cruzam
com uma pequena menina mutante, colocam-se na linha de perigo,
alterando não apenas as prioridades como as relações entre os
dois. Novela rápida, e que fará talvez desejar saber mais do que
poderá vir a desenvolver-se, a utilização desses princípios
genéricos tornam-na de uma legibilidade imediata, ajudado pelo facto
de que Third Wheel parece um encontro entre banda desenhada
clássica pós-apocalíptica e toda esta nova sensibilidade da
Cartoon Network… Impresso em risografia apenas em tons de azul (no
interior, com excepção da capa e uns apontamentos na folha de
título), este pequeno livrinho num formato quase de bolso parece
remeter para uma experiência antiga de leitura de “gibis”, o que
tem tudo a ver com o seu conteúdo.
Nota
final: agradecimentos a André Ruivo, André Coelho, e Rodolfo
Mariano, pelas ofertas das suas publicações, e à Chili Com Carne,
Polvo e Mmmnnnrrrg, pela oferta dos seus títulos.
1 comentário:
Yo! Bum Rush the Show
a Nadja é MNRG e não Chili...
abraços
M
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